De costas para a rua

11:12

Priscila Gama

Às quatro horas da manhã, quando ainda nem os galos cantaram, a Kombi da família Silva sai rumo ao entroncamento. Nas panelas, parte da culinária regional e como prato principal, a panelada. Famosa na cidade e herdada de pai para filho a panelada Cruzeiro do Sul é ponto de encontro de todas as camadas sociais. Os turistas quando vem para a cidade também passam por lá para degustarem o famoso prato típico Imperatrizense.

Quando o sol começa a subir, a noite e a farra vão se acabando. É quando o movimento nas barracas de panelada das Quatro Bocas registra maior numero de clientes. Em Imperatriz é assim. Se uma boa farra não acaba em sanduíches gigantes com creme de leite na Praça de Fátima, certamente acaba nos “lecostêdeparruês”, apelido dado às barraquinhas que ficam 'de costas para a rua' onde se comercializa o famoso e aclamado cozido das vísceras e do mocotó do boi.

Dona Maria da Paz não tem uma barraca montada nas Quatro Bocas, mas tem um carrinho, que leva para onde quer, e lá é o local preferido para estacioná-lo. Ela e o marido revezam nos trabalhos, quando um cozinha, o outro vai para o ponto, fazem isso durante toda a semana para evitar a estafa. “Não deixa de ser cansativo né? A gente gosta de fazer, mas é uma luta muito grande, tem dia que o corpo pede descanso mas a boca dos filhos aberta não deixa a gente parar”, explica Josias, esposo de Maria da Paz.

Fora a panelada, as barracas padronizadas das Quatro Bocas servem ainda caldo de mocotó, assado de panela, sarapatel, bode no leite de coco e galinha caipira. Tudo entre quatro e seis reais, servido com arroz, cheiro verde, uma pimentinha, limão e farinha de puba, de acordo com o gosto do cliente.

Já passam das 4h da manhã. Atentos observamos o movimento do ponto logo após um grande show que ocorreu na cidade. São jovens, adultos, turistas de passagem, curiosos, todos degustando o prato que já faz parte da identidade imperatrizense. “Isso aqui cura qualquer ressaca moço”, fala Orlando Silva (28), exímio frequentador das barracas das Quatro Bocas.

Nesse simples PF, para o antropólogo Roberto Da Matta, está um forte traço da cultura brasileira. Segundo ele, nós, brasileiros, sempre privilegiamos comidas nacionais e preferimos sempre os alimentos cozidos. Do cozido à peixada e à feijoada. Da farofa ao pirão e aos molhos, guisados e mexidos, às dobradinhas e papas. Parece que temos especial predileção pelo alimento que fica entre o líquido e sólido, evitando o assado, alimento que não permite a mistura, escreveu em seu livro “O que faz o Brasil”?

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