(Artigo, 2011)
Grande parte dos estudos sobre a relação entre evangélicos e
mídia se notabilizam pela apreciação geral que fazem do assunto. Considerando a
situação de pluralismo religioso e a sociedade contemporânea como mercadológica
e a necessidade de se estudar o uso de diferentes mídias para propagação
evangelística, pretendo aqui identificar as mídias religiosas que tem por
motivação a livre concorrência e não a missão e o proselitismo.
De modo geral, nos estudos, sobre a relação evangélicos e
mídia, a ênfase recai na possível influência dos veículos de comunicação em
relação ao crescimento deste grupo, no discurso e posicionamento político que o
grupo assume em suas mídias ou na concorrência entre igrejas proprietárias de
empresas de mídia. Também é crescente o interesse sobre a relação entre
evangélicos e televisão, por ser o maior meio de comunicação de nossa época,
por envolver cifras elevadíssimas e é claro, pelas imagens fortes e agressivas
que as igrejas usam.
Há pelo menos duas décadas os evangélicos vêm despertando
interesse de variados segmentos de nossa sociedade, principalmente da mídia,
por estarem estes assumindo diferentes posições e investidas no campo
religioso.
Cita-se aqui o surgimento da Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD) na década de 1980, sua inserção no campo religioso brasileiro e
suas relações com a mídia, a atuação da bancada evangélica na constituinte de
1988 e o conseqüente crescimento de políticos evangélicos nas mais variadas
eleições do país bem como o crescimento dos evangélicos em paralelo com o
declínio católico apontado nos censos do IBGE.
Fato é que esse tipo de evangelização ganha maior ênfase
ante a uma sociedade que "ensina" através de seus meios de
comunicação que o mais importante na vida é consumir. As pessoas
"educadas" nessa cultura de consumo fazem do consumismo o sentido
último da vida. Quando não conseguem satisfazer o desejo de consumo e nem
perceber que tais valores não são humanizantes e espirituais, procuram igrejas
e religiões para pedir a Deus que lhes abençoe com mais capacidade de consumo.
Assim, acabam confundindo a excitação do consumismo com experiência espiritual
ou com bênçãos divinas e fazem de Deus e da religião instrumentos para o
enriquecimento – teologia da prosperidade.
A religião da satisfação dos desejos penetrou profundamente
no protestantismo e também no catolicismo, estando na base das novas religiões
holísticas. O objetivo é sempre o bem-estar individual.
Hoje A IURD tem a terceira maior rede de TV do país, a Rede
Record, composta por cerca de 30 emissoras de televisão; a Igreja Assembléia de
Deus opera uma rede com duas emissoras e dezenas de repetidoras no norte do
país, a Rede Boas Novas; A Igreja Renascer em Cristo opera, em São Paulo, a
Rede Gospel de Comunicação e tem também canal via satélite para todo o Brasil.
Até R.R Soares, cunhado de Edir Macedo, iniciador da Igreja
Internacional da Graça de Deus, que tem uma exposição de 60 horas semanais na
TV aberta, já tem seu próprio canal – a RIT TV. Recentemente, outro
remanescente da universal passou a usar a TV como meio de “evangelização”.
Trata-se do ex bispo e ex amigo pessoal de Edir Macedo, Valdemiro Santiago, que
vem ocupando seu espaço na TV aberta com horários pagos, e que vou me resumir
dele por aqui, por que falar de Valdemiro dá até uma monografia.
No entanto, concordo com Luhman, e entendo que a recepção da
mensagem midiática é de improvável definição e pode ou não se alcançar os
objetivos pretendidos e ainda pode se alcançar objetivos contrários ou não
esperados. Enfim, a relação indivíduo-mídia não é passiva, mas dinâmica e
improvável. Sendo assim, o casamento entre igreja e mídia assistido
hodiernamente pode ou não atingir os objetivos desejados pela instituição
eclesiástica.
Referência:
T. W. ADORNO, & M. HORKEIMER, Dialética do..., 1995; N.
LUHMANN, A improbabilidade..., 1996
José Comblin em O Caminho - Ensaio sobre o seguimento de
Jesus
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