Revelação polêmica

12:46


(2011, AB)

“Qualquer pessoa que tenha passado uma década celibatária tem ‘perdedor completo’ estampado em suas costas”. Foi dessa maneira que a cantora gospel americana Jennifer Knnap resolveu assumir sua sexualidade a todo o mundo.

Seguindo os passos de Ricky Martin, o mais recente assumido entre as celebridades, a cantora cristã, dona de uma carreira de sucesso no meio gospel há pelo menos 10 anos, num ato de coragem extrema revelou-se lésbica.

A revelação caiu como uma bomba no meio gospel. A cantora, admirada por jovens e adolescentes cristãos do mundo todo, é agora persona non grata entre as igrejas.

Pastores de todo o mundo já estão incluindo seu nome e suas músicas como proibidos. “Não dá pra ouvir, cantar ou executar músicas de alguém que voltou ao próprio vômito depois de provar do maná”, expressou com indignação a jovem Daniela Pereira, 23, membro de uma igreja local e ex fã de Jennifer Knnap. Muitas rádios do ramo gospel já excluíram de suas playlists a discografia da cantora, é o que afirma pastora Sandra, apresentadora de um programa gospel na radio missão FM de Imperatriz.

Após uma ausência misteriosa de sete anos passada em sua maior parte do outro lado do mundo, Jennifer Knapp não apenas está lançando um novo álbum como está "saindo do armário", um termo que a cantora e compositora indicada ao Grammy considera "muito bizarro" neste momento em que ela relança sua carreira musical, com certo nervosismo.

A cantora de 36 anos, natural do Kansas e que saía com homens em sua época de faculdade, está preparada para uma reação negativa por parte de fãs religiosos que, ao longo dos anos, sempre fizeram questão de desmentir rumores sobre sua sexualidade. Por outro lado, disse ela em entrevista recente à Reuters, "ando ganhando muito mais piscadelas de garotas (nos shows) do que no passado!", polemiza.


Mas Knapp se considera "uma pessoa de fé" e rejeita a sugestão de que esteja dando as costas à igreja, acusação que prejudicou artistas como Sam Cooke e Aretha Franklin quando eles deixaram o gospel para trás para buscar o estrelato pop.

Antes de conhecer sua namorada, nos Estados Unidos, ela foi celibatária durante dez anos. Knapp disse que isso condiz com a expectativa geral em relação aos membros não casados da comunidade evangélica.

Embora diga que ainda respeita as pessoas que se abstêm do sexo não conjugal, ela brincou: "Qualquer pessoa que tenha passado uma década celibatária tem 'perdedor completo' estampado em suas costas".

O novo álbum da cantora será lançado em 11 de maio através da distribuidora independente RED, pertencente à Sony Music. Será seu quarto álbum, e o primeiro desde "The way I am", de 2001, que recebeu uma indicação ao Grammy de melhor álbum de rock gospel.

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Depois de tanta repercurssão, a ex-cantora gospel Jennifer Knnap resolveu dar uma resposta à imprensa quanto aos ataques que vem sofrendo desde que decidiu assumir sua homossexualidade.


A cantora questionou a autenticidade das traduções da Bíblia sobre a questão homossexual. Durante recente apresentação no Live da CNN, Knapp salientou que os crentes confiam em um texto que não está no idioma original. Ela disse que os estudiosos questionam a interpretação das palavras de origem grega que foram traduzidas para a homossexualidade.

Embora reconhecendo não ser uma estudiosa ou teóloga, Knapp levantou a questão da tradução da Bíblia para desafiar aqueles que a citam para afirmar que a homossexualidade é um pecado.

“Acho que minha fé não está em questão. Definitivamente eu entendo que estamos bem distantes de uma interpretação justa do texto sagrado. A longo prazo eu não tenho problemas com isso porque eu não sou a única pessoa no universo que procura entender a bíblia de uma ótica diferente”, disse ela. “Temos advogados de ambos os lados. Isso não faz a verdade menos verdade ou o amor menos amor”.

Jennifer faz parte de uma nova geração livre, leve e solta que não teme mais se assumir gay. Nunca se viu tantos jovens destemidos em assumir sua homossexualidade.
Em 1993, no Brasil, uma pesquisa revelou que quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo porcentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento, com 1.500 adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International.

A tolerância às diferenças, antes verificada apenas no ambiente de vanguardas e nas rodas intelectuais e artísticas, está se tornando uma regra - especialmente entre os escolarizados das grandes cidades brasileiras.

Ainda que o preconceito persista em alguns círculos, atingiu-se um estágio de evolução em que professá-lo se tornou um gesto condenável pela maioria - um sinal de progresso no Brasil.

Um conjunto de fatores ajuda a explicar o fato de a atual geração gay ser mais livre de amarras - alguns de ordem sociológica, outros culturais. Um ponto básico se deve à sua aceitação por outros adolescentes. Para esses jovens, o conceito de tribo perdeu o valor, como chamou atenção o antropólogo americano Ted Polhemus, por meio de suas pesquisas. Ele apelidou essa geração de "supermercado de estilos" - ou só "sem rótulos". Nesse contexto, não há mais lugar para algo como o grupo em que apenas ingressam os gays ou os negros, algo que as escolas brasileiras já ecoam. Antes fonte de tormento para alunos homossexuais, alvo de piadas, quando não de surras e linchamentos, o colégio se tornou um desses lugares onde, de modo geral, impera a boa convivência com os gays.

Uma das grandes aliadas nessa luta é a mídia. Ao longo da última década, a indústria do entretenimento tem refletido, de forma acentuada, as mudanças culturais em relação à sexualidade. Na televisão, nunca houve tantas séries retratando o universo gay. Quase todas as novelas hoje em dia trazem pelo menos um casal gay.

"Hoje, esses personagens fazem o maior sucesso", analisa Manoel Carlos, autor da atual novela das 8, Viver a Vida. Isso não só ajuda a levantar o diálogo sobre a homossexualidade em casa como ainda minimiza a resistência a ela.

O rol de celebridades que se assumem gays também cumpre, em certo grau, esse papel. No caso da cantora Gospel Jennifer Knnap, uma barreira ainda maior pode ser vencida - a da religião, palco maior da intolerância à homossexualidade.


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